Em agosto, há muito com que se entreter em Lisboa

Da música ao cinema (e serão muitos os ciclos de cinema, um deles comissariado por Eduardo Souto de Moura), a maioria dos eventos culturais que vão animar Lisboa e os lisboetas durante o mês de agosto são gratuitos

Música

O ano de Salvador Sobral

Já é mais fácil estacionar em Lisboa, há menos filas em muitos dos serviços a que recorremos no dia a dia, e os elétricos passam carregados de turistas que nos olham e por vezes fotografam como à fauna de um país estranho. Estamos em agosto, o ano letivo acabou, e uma boa parte da capital desceu até ao Algarve.

Dizer que este tem sido um bom ano para Salvador Sobral é, digamos, bastante sóbrio. Mais realista seria dizer que este é o ano em que o músico lançou o seu álbum de estreia Excuse Me , fez a primeira parte dos Cinematic Orchestra no EDP Cool Jazz, atuou na Casa da Música e a sua voz fez esgotar o Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, o que o levou a um segundo concerto naquela sala lisboeta. Atende o telefone em Cádiz, onde tocara na noite anterior. Hoje será na também espanhola cidade de Sevilha. As suas férias, portanto, vão do fim desse concerto até dia 14, quando, às 17.00, aturará no palco do Out Jazz em pleno Jardim da Estrela.

E se este foi o ano de Salvador – sim, que em 2009, aos 19 anos, participou no programa televisivo Ídolos, e sim, irmão da também cantora Luísa Sobral – tal deve-se ao repto que pôs a si mesmo: “Tinha de avançar com as canções de uma vez, porque estavam ali meio estancadas. Pensei: agora é que tem de ser. E foi também o ano em que eu conheci o Júlio [Resende].” Conheceu o pianista numa jam session do Hot Clube de Portugal. “Ele estava a tocar, eu subi e cantei uma canção, ele gostou.” Júlio acabaria por coproduzir Excuse Me, ao lado do próprio Salvador e do seu amigo venezuelano Leonardo Aldrey – “Leo”, que vem dos tempos em que o músico estudou jazz na Taller de Musics, em Barcelona. O disco é feito de originais como Excuse Me e Change, de temas como Nem Eu, de Dorival Caymmi, ou do bolero Ay Amor, ou I Might Just Stay Away, canção que Luísa Sobral compôs para o irmão quando esteve estava “obcecado” com o músico. “Ela disse: Vou-te compor uma coisa que seja parecida com as coisas que o Chet Baker cantava. Escreveu aquela balada que eu acho que devia estar no Real Book. Os standards de jazz têm uma espécie de um livrinho e eu digo sempre que este tema merece.” Antes de gravar o disco, com Resende no piano, André Rosinha no contrabaixo e Bruno Pedroso na bateria, Salvador cantou-o muitas vezes na Fábrica Braço de Prata, “o melhor sítio de Lisboa”, lança a rir.

No dia 14, domingo, é dia de Salvador, bem como do DJ Girão no Out Jazz, que todos os domingos deste mês, às 17.00, leva diferentes nomes ao Jardim da Estrela. Os próximos serão Ricardo Toscano Quarteto e DJ Nery. Mas há mais para quem quer escutar música em Lisboa durante este mês. Todas as sextas-feiras há “Noites de Verão” no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado. O primeiro a atuar é o guitarrista português Norberto Lobo, às 19.30. Na sexta-feira seguinte, dia 12, será o saxofonista britânico Evan Parker, nome maior do free jazz. Segue-se Inga Copeland, dos Hype Williams, e, no dia 26, o guitarrista Mike Cooper.

Na quinta-feira começa o Jazz em Agosto, que este ano traz à Fundação Calouste Gulbenkian a guitarra elétrica de Marc Ribot. O músico atua na sexta-feira às 18.30 (bilhetes a 7,5 euros), na sala polivalente, ao mesmo tempo que filmes da cineasta Jennifer Reeves são projetados. Até dia 14 há ainda Frank Gratkowski, Ava Mendonza ou Paal Nilssen-Love para ver. Ainda pode aproveitar os últimos concertos do Lisbon Music Fest, que traz à capital coros e orquestras jovens de todo o mundo. A National Youth Orchestra of Canada atua na quarta-feira no Museu de Nacional de Arte Antiga, na quinta-feira às 16.00 no Palácio Nacional da Ajuda, e no sábado às 17.00 no Museu Nacional dos Coches.

Na Casa Fernando Pessoa haverá “Jazz na Esplanada” às quintas-feiras, em pareceria com o Hot Clube de Portugal. No dia 11, o saxofone de Ricardo Toscano e o contrabaixo de Nelson Cascais encontram-se ali mesmo às 19.00.

O Beco do Rosendo, na Mouraria, vai parar no dia 20 às 19.00 para escutar Mbye Ebrima, tocador de kora, cantor, e contador de histórias nascido na Gâmbia.

Bem mais íntimo será o concerto desta tarde do Misty Roof. Com entrada limitada a cem pessoas – ainda pode fazer a pré-reserva hoje -, entre as 18.30 e as 20.30 um “artista internacional” atuará no The View Rooftop Rua de Alcolena, Complexo Olímpico do Belenenses. O seu nome é secreto. Há apenas a referência do último Misty Roof: o músico era Rodrigo Leão.

Em Cascais, as Festas do Mar, entre dia 19 e 28, recebem Amor Electro, Maria Gadú, Azeitonas, Cuca Roseta e Mariza.

Os “Grandes concertos do Casino” do Estoril apresentam Luís Represas, na quinta-feira, os Clã, no dia 18, e os Deolinda, dia 25.

GRÁTIS: Todos os eventos são de entrada livre, à exceção do Jazz em Agosto, na Fundação Gulbenkian

Teatro

Um novo La Féria para o verão

A maioria dos panos caíram nos teatros a 31 de julho, prometendo voltar em setembro. Mas agosto ainda traz teatro. A fechar o festival Glorioso Verão – Festival Shakespeare háCimbelino. António Pires encena o texto de William Shakespeare de amanhã até dia 13 nas Ruínas do Carmo, sempre às 21.00 (bilhetes a 15 euros), numa produção Teatro do Bairro / Ar de Filmes. O elenco conta com Adriano Luz, João Araújo, João Barbosa, Ricardo Aibéo e Rita Loureiro, além dos alunos de teatro da Act School.

Filipe La Féria estreia uma nova peça no Teatro Politeama. As Árvores morrem de pé, de Alejandro Casona, com Eunice Muñoz, Ruy de Carvalho, Manuela Maria, Maria João Abreu, João d”Ávila, Hugo Rendas e Carlos Paulo, estreia no dia 11 e deverá estar em cena até novembro. Os bilhetes custam entre 15 e 30 euros. Para as crianças, há A Branca de Neve e os Sete Anões aos sábados às 11.00 e aos domingos às 16.00 no Hospital Júlio de Matos. Esta história clássica é encenada pela companhia Byfurcação Teatro, que já levou as suas peças à Quinta da Regaleira ou ao Museu Nacional de História Natural e da Ciência. Bilhetes a a oito euros a partir dos três anos e três euros para as crianças de dois anos.

GRÁTIS: Nenhum dos eventos é grátis

Animação vídeo e multimédia

As Caras de Lisboa no Terreiro do Paço

O vídeo mapping regressa ao Terreiro do Paço. Este ano, o espetáculo, intitulado As Caras de Lisboa, contará a história da cidade através de personagens maiores da sua história: das varinas ao amolador. A projeção será feita no Arco da Rua Augusta, acompanhada de música, e poderá ser vista a partir de sexta-feira, até dia 14, às 21.45, 22.30 e 23.15. Cada sessão dura 15 minutos. Outro regresso à cidade é o do festival FUSO – Vídeo Arte, que de 23 a 28 de agosto toma vários jardins e terraços de Lisboa. Com sessões selecionadas por Jean-François Chougnet, ex-diretor artístico do Museu Berardo, e apoiadas pela Fundação EDP, as projeções acontecerão em locais como o Palácio Pombal, o Museu do Chiado ou o Museu Nacional de Arte Antiga.

GRÁTIS: Todos os eventos são grátis

Exposições

A série de Jorge Molder que se estreia em Lisboa

O Museu do Oriente inaugura na quinta-feira a exposição Parallel Nippon – Arquitetura Japonesa Contemporânea 1996-2006, patente até dia 28 (bilhetes a seis euros, com descontos, gratuito às sextas-feiras das 18.00 às 22.00). A mostra inclui projetos de arquitetos como Toyoo Ito, Shigeru Ban, Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, Tadao Ando, Fumihiko Maki e Kenzo Tange – todos prémios Pritzker, considerado o Nobel da Arquitetura – e está dividida entre quatro secções: cidade, vida, cultura e habitação.

O espaço Chiado 8, que tem mostrado peças da coleção de António Cachola, com curadoria de Delfim Sardo, traz pela primeira vez a Lisboa série Anatomia e Boxe, de Jorge Molder. São 40 fotografias impressas a gelatina de sais de prata, datadas de 1997. Além destas, continuam patentes exposições como Continuidade, que mostra as maquetes e os vídeos de obras-chave na arquitetura de Eduardo de Souto Moura, na Garagem Sul do Centro Cultural de Belém (bilhetes a cinco euros); O Museu que não se vê, as reservas do Museu Nacional de Arte Antiga exibidas no terceiro piso (bilhetes a seis euros, com descontos, e gratuito no primeiro domingo do mês); ou Diálogos Imaginados, Rafael Bordalo Pinheiro e Paula Rego, no Museu Bordalo Pinheiro (bilhetes a 1,5 euros, gratuito aos domingos antes das 14.00), que inclui um vídeo feito pelo filho da pintora, Nick Willing, com um depoimento da mãe sobre o ceramista.

GRÁTIS: O Museu Nacional de Arte Antiga, o Bordalo Pinheiro e o Museu do Oriente têm entrada gratuita no primeiro domingo do mês, todos os domingos, e à sexta-feira, respetivamente

Cinema

Para todos os gostos e quase sempre ao ar livre

Além da música, agosto parece ser o mês do cinema em Lisboa. Na Casa Independente, no Intendente, há “Quintas no Pátio”, com a exibição de filmes como À flor do mar, de João César Monteiro, na próxima quinta, O desprezo, de Jean-Luc Godard, na seguinte,O Pântano, de Lucrecia Martel, no dia 18, e Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, de Pedro Almodóvar, no dia 25. Sempre as 21.00.

No Polo Cultural Gaivotas | Boavista, perto do Largo Camões, o Ciclo de Cinema Lusco-Fusco traz, até 24 de agostos, filmes como os de Jacques Demy ou Jean-Luc Godard, Pedro, o Louco e Os Chapéus de Chuva de Cherburgo. No Centro Cultural de Belém, e paralelo à exposição Continuidade, o ciclo As Escolhas do Arquiteto leva à projeção ao ar livre de alguns filmes da vida de Souto de Moura. No Jardim das Oliveiras poderá ver A Quimera do Ouro, de Charlie Chaplin, às 21.30 no dia 13, ou Pina, sobre Pina Bausch, de Wim Wenders, no dia 27. O ciclo continua em setembro.

“Arquitectos do Imaginário – Animação Japonesa de Studio Ghibli” traz ao Museu do Oriente o cinema do mestre do cinema de animação japonês Hayao Miyazaki ou de Hiromasa Yonebayashi aos domingos, às 18.00. Nos dias 7 e 14 há A Viagem de Chihiro e A Princesa Mononoke, do primeiro, e, no dia 28, Memórias de Marnie, do segundo.

O ciclo “Um Verão Russo no Nimas” leva hoje à sala de cinema lisboeta, na avenida 5 de outubro, Pai e Filho, de Aleksandr Sokurov, ou Elena de Andrey Zvyagintsev. Amanhã há Leviatã, do mesmo realizador. Bilhetes a quatro euros.

GRÁTIS: Todos os ciclos são gratuitos, à excepção de Um Verão Russo no Nimas.

Mercados

Do Fado à velha Feira da Ladra

O Mercado do Fado regressa ao Jardim Botânico Tropical, em Belém, no dia 28, entre as 11.00 e as 18.00. Entre espetáculos da Escola de Fado da Mouraria e da Ajuda, venda de artesanato e de antiguidades, discos ou livros, há gastronimia para provar e peddy papers para descobrir.

A velhinha Feira da Ladra não perde o seu charme nem os seus clientes. Todas as terças-feiras e sábados, entre as 9.00 e as 18.00 (nunca é certo), há roupa, antiguidades, livros e uma série de coisas que nunca pensou precisar (ou não sabia que existia) à venda.

Agosto ainda é o mês da Feira da Luz, em Carnide, que abre no dia 27 com um concerto dos portugueses Oquestarda. A feira que nasceu da tradicional romaria que acontecia todos os anos no Santuário da Nossa Senhora da Luz, e a que a Junta de Freguesia se juntou em 1992, termina em setembro com a habitual Procissão da Nossa Senhora da Luz. O Mercado Crafts & Design regressa ao Jardim da Estrela no próximo fim de semana. Subordinado ao tema Urban Vibe, o mercado voltará a mostrar aquilo que se tem feito no design, do mais conhecido ao mais discreto. Registo ainda para as antiguidades, roupas e discos da já habitual LXMarket, na LXFactory, em Alcântara, que continua aos domingos, das 11.00 às 18.00.

GRÁTIS: Tudo com entrada livre

 

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