Raquel Pacheco praticamente dispensa apresentações. A ex-prostituta conhecida pelo pseudônimo de Bruna Surfistinha esteve em um evento para contar sobre seus novos projetos e deu uma entrevista exclusiva ao Testosterona.
Assim que encerrou uma conversa com uma fã, logo antes de falar comigo, pude ouvir o que ela dizia: “Não gosto de ficar no papai-e-mamãe, gosto de ficar em cima e escolher as posições”. É raro ouvirmos coisas sobre Bruna Surfistinha que ainda não sabemos. Sua vida é um livro aberto – literalmente. A autobiografia “O Doce Veneno do Escorpião: o Diário de uma Garota de Programa”, lançado em 2005, se tornou best-seller literário, ganhou adaptação em filme (Bruna Surfistinha, em 2011) e agora vai virar série na TV (estreia em abril de 2016 na Fox).
Ao Testosterona Entrevista, Raquel contou sobre como lida com as lembranças delicadas da sua vida, respondeu sobre arrependimentos, revelou que quer ter filhos logo e como pretende contar a eles sobre quem foi.
Entrevista: Fran Vergari
O que você já sabe sobre a sua série?
Bom, o que eu já sei é que está em fase de finalização do roteiro e que as gravações vão começar agora em setembro. A Maria [Bopp], que vai me interpretar, já está em fase de laboratório e treinamento. Porque ela é iniciante, é novinha, fez um papel só na TV. E o objetivo da diretora, a Márcia Freire, era justamente pegar uma atriz nua e crua, sem vícios, nova, para começar, inexperiente mesmo. E eu aceitei, até porque acho que é bacana, no filme já teve a Deborah [Secco], então vai ser o oposto, porque a Deborah é super conhecida, famosa, e agora a Maria. Eu achei muito bacana essa ideia porque pensei muito naquela série da Globo, Presença de Anita (2001), com a Mel Lisboa, e ela mega se entregou porque era a oportunidade dela de começar.
Vocês se falam muito?
No dia em que a gente se conheceu, no comecinho de julho, ela já foi com o preparador dela, o Tom [Tomás Rezende] e ele fez um encontro diferente. Ele me vendou, vendou a Maria e a gente teve que se sentir, sentir a respiração da outra, ele colocou minha mão no coração dela, a mão dela no meu coração, a gente não se via e teve que sentir. Tanto os batimentos cardíacos quanto a energia uma da outra, para sincronizar tudo. E a gente ficou vários minutos assim, chegou um momento em que a nossa respiração estava no mesmo ritmo, igual, sem saber que essa era a intenção dele, a gente entrou na mesma energia. E ela é bem mais nova do que eu, eu tenho 30 anos e ela está com 23 e, quando ele tirou a venda, eu me vi na Maria. Apesar da diferença física, como aconteceu com a Deborah, que também era muito diferente de mim, a Maria também é bem diferente. Primeiro que os olhos são claros, mas eu me vi muito nela, assim, de quando eu comecei mesmo. Porque essa era a intenção: pegar uma atriz novinha porque nessa primeira temporada vai ser a minha vida com 17, 18 anos, então exigia uma atriz mais novinha. Fizemos outros trabalhos de interpretação juntas e eu consegui me enxergar nela, assim como eu consegui me enxergar na Deborah. Vai ser um trabalho bem forte, bem marcante para mim. E eu torço muito por ela.
Em nenhum momento você pensou em fazer você mesma?
Ah não, acho que não tem graça. Da mesma maneira que o filme, na época me perguntaram muito “ah, por que você não faz?”. Primeiro que, para mim, tem muito mais graça ver alguém me interpretando, e outra que eu não sou atriz, eu nunca tive essa pretensão. Até para “me fazer” eu teria que me interpretar hoje em dia, né? Porque faz tanto tempo essa época de prostituição, eu tinha 17, até os meus 20 anos, já faz 10 anos que eu parei de fazer programa. Eu parei em 2005, vai fazer 10 anos já. Então, assim, 10 anos depois, querendo ou não, eu teria que me interpretar. Eu sou outra pessoa, do que eu fui com 20 anos. Eu teria que ser atriz e eu não ia conseguir.
Tem partes da sua história que você prefere que não entrem no roteiro ou que estavam no filme e você não quer na série?
Não, não. Eu sou muito tranquila. Não tem nada da minha vida que eu não queira lembrar ou que “volte à tona”. Até com os momentos mais difíceis para mim eu não tenho esse problema. Tanto que os roteiristas do filme ficaram à vontade para escrever e eu tive acesso só quando estava finalizado. E com a série é a mesma coisa.
Seu psicológico então lida muito bem com tudo?
Sim, eu tenho consciência de que eu vou ter que lidar com isso até o meu último momento de vida. Então eu lido de uma maneira muito natural com o que eu fui, do que aconteceu na minha vida, sem problema nenhum.
Você se arrepende de alguma coisa?
Não. Eu sempre lidei muito bem com isso tudo. Eu nunca me arrependi da prostituição. Eu fiz filme erótico também e, na época que eu fazia programa, eu me arrependi do filme. Eu fiz o que tinha que ter feito, fiz o que eu tive vontade. Acho que arrependimento é pior, não adianta nada. Já aconteceu e a vida tem que continuar. Então, hoje em dia eu não me arrependo de nada em relação à prostituição, ao que eu fiz ou deixei de fazer, sabe?
Até porque a vida seguiu mesmo, né? Livro, filme, agora a série… e tem mais livro a caminho?
Sim! Acho que vai sair ainda esse ano, lá para novembro ou dezembro. E tem a butique erótica que, quando estiver no ar, vai ser meu foco. E… o que mais? Ah, minha pretensão mesmo é começar [com a butique] na internet e depois ter loja física. Uma proposta bem diferente, não vai ser simplesmente uma lojinha erótica, estou pensando em fazer alguma coisa bem diferenciada. Mas isso já é para o próximo ano.
E você já está casada há 10 anos, é isso?
Isso, 10 anos.
Agora aquela pergunta de site de fofoca: pensa em filhos?
(Risos) Essa pergunta é ótima mesmo. Eu sempre quis ser mãe, há anos, mas sempre adiei. Na verdade, eu já queria ter sido. Acho que com 30 anos já é uma idade boa, meu limite é 35. Quero ter dois filhos, então com 35 é meu limite para ser mãe. Mas para ser mãe a gente precisa abrir mão de muitas coisas, né? E eu quero ser a mãe que eu queria ter tido: uma mãe presente, acompanhar pelo menos o primeiro ano muito de perto. Quero ouvir a primeira palavra, quero ver o primeiro passo, quero ser muito presente. E, para isso, eu preciso abrir mão de muitas coisas. Hoje em dia eu também sou DJ, então tenho viajado bastante, minha rotina está bem agitada, então eu estou segurando essa realização um pouquinho.
E você já pensou em como vai contar sobre você e sua história para eles?
Então, eu vou dar um jeito de ter um terapeuta me acompanhando nesse processo, para me ajudar. Mas eu quero que meu filho cresça já sabendo, não quero contar para ele só quando tiver 18 anos, sabe? Porque eu quero que ele saiba por mim, não por outra pessoa. Então eu vou ter que conversar com algum profissional, assim, de mentes, para me orientar o melhor momento de falar com o meu filho ou a minha filha sobre quem eu sou, quem eu fui, na verdade. Em relação à orientação, se eu tiver uma filha, no caso, eu acho que essa questão de proibir é tão complicada. Porque eu fui garota de programa justamente por essas proibições. Sexo na minha casa, para os meus pais, era uma coisa tão “pecado”, então acho que me instigou mais isso. Eu tenho uma mente muito aberta e quero passar isso para os meus filhos. Minha única preocupação vai ser em relação a doenças sexuais ou ser mãe e pai na juventude, cedo demais. Tirando isso, eu quero ter filhos felizes, só isso. É o que importa. Tem que criar o filho para o mundo, não para nós mesmos.
Para fechar, falando em “nós mesmos”, ouvi você falando agora há pouco que defende muito que as mulheres se masturbem. Acha que os homens se sentem ameaçados com a presença de um vibrador por perto?
Sim, eu acho importante a mulher se tocar, se conhecer, precisa se masturbar, sim! O vibrador não é para dividir, é para somar. Os homens seguros não pensam que a mulher comprou um vibrador porque eles não estão dando conta. O homem seguro não vê o vibrador como um concorrente. O homem é muito visual no sexo, gosta de ver a mulher se masturbando e as mulheres gostam de se exibir, precisam se exibir fazendo isso para o homem. É uma experiência muito legal, um tabu que precisa ser quebrado entre os casais e que pode ajudar muito na relação. Logo vou abrir a lojinha e aí vou indicar alguns para todo mundo comprar lá! (Risos)