Mais de 100 atletas, algumas com menos de nove anos, abusadas sexualmente, e ainda há mais casos. A ginástica americana está em choque com as denúncias que envolvem Larry Nassar, médico da equipa americana do desporto, mas o caso parece não gerar tanta atenção nos EUA.
Nassar é acusado de aproveitar a sua condição de médico para abusar sexualmente de atletas da equipa americana e da Universidade Michigan State nos últimos 20 anos.
A justiça americana acusou o médico de abusar de nove crianças – duas com menos de 13 anos e outras nove entre os 13 e os 16 anos. Depois de o caso se tornar público, várias outras vítimas denunciaram o médico. Ao todo, 84 mulheres estão a acusar Nassar judicialmente, enquanto outras 19 manifestaram a intenção de fazer.
A lista inclui Jamie Dantzscher, que participou dos Jogos Olímpicos de 2000. Em entrevista para o programa “60 Minutes”, Dantzscher descreveu o médico como “repugnante”, “desprezível” e “um monstro”.
Apesar da entrevista, há críticas sobre a falta de interesse no caso. O New York Times publicou um pequeno artigo sobre o assunto, assim como o Wall Street Journal, mas a cobertura está na maior parte concentrada em jornais locais. Algumas vítimas afirmam que estavam a denunciar o médico há anos, mas não recebiam atenção.
Segundo a investigação, o médico terá chegado a oferecer presentes à vítimas e a pedir que elas não contassem aos pais sobre os abusos pois “eles não entenderiam”. De acordo com uma das testemunhas, as atletas não o denunciavam por considerarem os abusos como uma prática “normal”, já que ocorria com todas as atletas. Além disso, o status do médico dentro do mundo da ginástica intimidava as vítimas.
A facilidade com que ele conseguiu por mais de 20 anos abusar de menores também gerou críticas contra a Federação Americana de Ginástica e a Michigan State. Foi realizada em março uma audiência no Senado americano para estudar uma proposta de lei que proteja as atletas mais jovens de abusos. A Federação de Ginástica foi criticada por não enviar nenhum representante. Steve Penny, presidente da federação, renunciou ao cargo na sequência da pressão do Comité Olímpico americano.
Nassar encontra-se preso no momento sob as acusações de posse de pornografia infantil e por abusar da filha de um casal de amigos.
Não é a primeira vez que o desporto americano é abalado por acusações de abusos sexuais. Em 2011, Jerry Sandusky, treinador adjunto da euipa de futebol americano da universidade Penn State, foi acusado de abusar de 52 jovens entre 1994 e 2009. Há relatos de casos relacionados ao treinador desde da década de 70. Sandusky foi condenado a uma pena entre 30 a 60 anos de prisão. A universidade e principalmente Joe Paterno, lendário técnico de futebol americano e superior de Sandusky, foram acusados de encobrir os abusos do adjunto. Paterno foi demitido após a polémica, enquanto outros três funcionários da universidade foram condenados por colocar menores em risco.
Parte do mundo da ginástica critica o caso de Nassar não estar a ser divulgado como foi o de Sandusky. “Eu não sei se as pessoas se importaram tanto com os jovens quanto com a instituição de Penn State e Joe Paterno”, disse Jessica Luther, jornalista especializada em casos de abusos sexuais no desporto, em entrevista ao site Huffington Post.