Separou-se do marido. Foi tranquilo, como devia ser sempre e raramente é. O Verão estava à porta e nada como entrar nos dias quentes com um estado civil mais condizente com noites longas, bebidas frescas e desejos por saciar. Para trás tinha ficado uma longa relação da qual nasceu um filho. Não se lembrava da última vez que tinha sido seduzida por um estranho. Era uma boa sensação, conhecer pessoas novas, interessantes, que lhe davam uma atenção que a fazia sentir arrepios. Sentia-se adolescente, sendo que esses anos já estavam muito longe. Homens mais novos, mais velhos, não importava. O que ela queria era sentir-se bem ao lado de alguém que merecesse a sua companhia. Os dias passaram, as semanas e meses também e o Verão acabou. E com ele acabou muita coisa. Muitas delas acabaram mesmo antes de conseguir perceber se poderiam ter futuro. Embriagada pelas noites longas e quentes, pela atenção recebida de homens tão diferentes entre si, ela agora sentia-se perdida, vazia e confusa. Como é que o melhor Verão de que tem memória podia a deixar naquele estado, pensava ela, agarrada a um copo de vinho tinto, enquanto via pela milésima vez um clássico do cinema, sozinha no sofá que agora lhe parecia enorme. E é quando o telemóvel toca. Mensagem do pai do seu filho, com quem nunca perdeu contacto. Mesmo durante aquele Verão que lhe tinha dado tantas histórias para contar às amigas e nunca a ele, claro. Pouco texto, mas suficiente para a deixar ainda mais confusa: “Ainda te amo como sempre amei. Beijo”. Não lhe respondeu, até porque ele não lhe fez nenhuma pergunta e ela não sabia muito bem o que lhe poderia dizer de volta. Mas deitou-se a pensar naquilo. Naquelas palavras, na ideia por trás daquele desabafo. E na verdade, mesmo nas noites mais quentes e longas, ela nunca se tinha sentido tão bem ou tão feliz como no passado com ele. E assim adormeceu, a reviver os melhores momentos de uma relação que lhe tinha dado o bem mais precioso da vida dela, um filho. Hoje ainda não estão juntos, mas se tivesse que apostar, diria que é uma questão de tempo. Porque às vezes, o nosso melhor futuro acaba por ir ao passado buscar o presente.