Utilizadores de aplicações de relacionamentos amorosos expressaram preocupações sobre privacidade após os seus contactos terem aparecido como sugestões de amizades no Facebook. Os casos foram registados com apps como o Tinder e Grindr e foram classificados de «assustadores».
O utilizador Dale, de 26 anos, disse que o seu perfil no app de encontros Grindr não está ligado à sua conta no Facebook mas que, mesmo assim, recebe sugestões de amizade de pessoas com as quais conversou.
«No Grindr, controlas a tua privacidade, não colocas a tua informação toda como no Facebook… é que não sabes quem aquelas pessoas são.»
«Já tive experiências más com pessoas no Grindr – não quero que descubram o meu sobrenome, a minha região…é realmente inconveniente.»
Thea disse ter tido um «match» no Tinder que apareceu diversas vezes como indicação no Facebook, apesar de ter clicado no botão para remover as sugestões de amizades. Eles nunca chegaram a trocar números.
«É muito irritante, especialmente se não gostei da pessoa e não tenho vontade nenhuma de vê-la novamente.»
Outro utilizador do Tinder, Shaun, disse à BBC ter tido duas sugestões de amizades com quem o único contacto tinha sido um «match» na aplicação – eles não tinham nenhum amigo em comum. O seu telemóvel está vinculado à sua conta no Facebook mas ele também não tinha dado o seu número a nenhum «match».
E não é só no Facebook. Alina deu o seu número para alguém que tinha conhecido no Tinder. Teve um encontro, mas esqueceu-se do episódio. Um ano depois, e com um número de telemóvel diferente, o rosto do «match» apareceu entre sugestões de contacto no LinkedIn.
«Sou surpreendida pela Internet todos os dias…mas este caso em particular assustou-me.»
O que estaria por trás disso? Daniel Cuthbert é o director de operações da empresa de pesquisa em segurança SensePost e diz que a questão está relacionada com o telemóvel.
Segundo ele, entre os vários algoritmos usados pelo Facebook, o site acede aos números de contactos do utilizador e compara-os com outras agendas – a autorização para esse acesso é dada pelo utilizador quando a aplicação é instalada.
«O que o Facebook e o Tinder fazem vai pela sua agenda, eles acedem aos seus números de telefone e correlacionam entre os seus números e os números de outras pessoas – e sugere pessoas baseadas nisso», disse.
E o que o diz o Facebook? «Não usamos informação de outros apps (como Tinder e Grindr) para mostrar sugestões de amizades», disse um porta-voz à BBC.
«As sugestões de ‘Pessoas que você talvez conheça’ são pessoas no Facebook que você talvez conheça. Mostramos pessoas baseadas em amigos em comum, informações de trabalho e educação, grupos que você faz parte, contactos que importou e muitos outros factores.»
«As pessoas têm opções que ajudam a limitar como podem encontradas no Facebook. Por exemplo, pode filtrar quem envia pedidos de amizade, e também quem pode pesquisá-lo no Facebook usando o e-mail ou número de telefone.»
Como se proteger? O analista de segurança Paul Amar sugere a criação de uma conta de Facebook falsa somente para aplicações de relacionamentos.
«Não use o seu número de telefone verdadeiro ou nome completo, e não relacione essa conta a qualquer um dos seus outros perfis online, usando este perfil para toda a sua actividade de flirt online.»
Mas isto vai contra os termos de serviço do Facebook e contas falsas correm o risco de serem desactivadas.
Um porta-voz do Tinder disse à BBC: «Se permitir, o Tinder acede à sua lista de amigos no Facebook para estabelecer se tem qualquer conexão comum com seu ‘match’ potencial no Tinder».
«O Tinder não fornece o Facebook com informação de ‘match’ que possa ser usada em recomendações de amizade do Facebook.»
O Grindr também comentou: «Estamos focados na privacidade dos nossos utilizadores. Porque queremos criar uma experiência segura e confortável para cada um. Assim, não partilhamos informação com o Facebook e o Instagram.»
«Apesar de utilizadores poderem partilhar links nos seus perfis no Grindr, excluímos a opção de acesso ao Grindr através de autenticação pelo Facebook e não pedimos números de telefones na nossa política de ‘sistema fechado’.»