Rui Morgado tem 24 anos e, como aconteceu com muitos dos seus colegas de faculdade, podia estar hoje a trabalhar numa empresa de consultoria ou de auditoria. Mas Rui Morgado fintou o seu destino mais óbvio. Há quatro anos decidiu apostar no trading e atualmente todo o esforço e dedicação dão frutos. Adepto do Sporting, Rui conta nesta entrevista como é ser trader, quais as dificuldades e vantagens dessa vida e fala sobre o seu projeto Back ou Lay, o qual ajuda milhares de pessoas a iniciarem-se no trading e a ganharem dinheiro com as apostas desportivas.
Como é que te iniciaste no trading?
O meu primeiro contacto com as apostas foi através do método da contra aposta, ou método dos bónus das casas de apostas. Quando consegui fazer uma banca aceitável através deste método passei para as apostas normais, onde perdia sistematicamente. Não muito tempo depois ouvi falar do Paulo Rebelo, vi todos os vídeos que o Paulo tinha feito, todas as entrevistas, li tudo o que tinha sido escrito por ele e percebi que era exatamente aquilo que eu queria fazer. Foi nessa altura que comecei a tentar fazer Trading.
O que é preciso para se ser um bom trader?
Pode parecer estranho, pois muita gente acha que para se ser um bom trader é necessário perceber muito de um desporto, seja ele futebol ou ténis. Considero que o mais importante, e talvez aquilo que é mais difícil de alcançar, é ter o controlo sobre nós próprios, ter o controlo emocional e psicológico que permita agir com a mesma clarividência em todas as situações, sejam elas positivas ou negativas. Claro que é importante encontrar uma estratégia que seja rentável a longo prazo, mas nenhuma estratégia resiste se nós não a soubermos aplicar com a mesma qualidade em todas as ocasiões, e é isto que define um bom trader.
Que dificuldades encontraste no início?
Quando comecei, em 2011, não havia a informação que há agora. Tive dias e dias à procura de informação que me ajudasse a aprender, li muito do que havia para ler, quer em português quer em inglês. Pesquisei em fóruns, vi várias estratégias, testei várias estratégias, perdi algum dinheiro a testar tudo, dinheiro este que vinha da mesada que os meus pais me iam dando ou dinheiro que recebia no Natal e nos anos. Na altura estava no primeiro ano da Licenciatura em Economia, e sei que o meu empenho e dedicação no curso nunca foi o devido, muito por culpa do tempo que acabei por despender com o trading para chegar ao nível em que estou hoje.
Como é que explicas às pessoas o que fazes?
Nem sempre é fácil, e sei que muitas das pessoas que convivem comigo diariamente, sejam familiares ou amigos, ainda não perceberam exatamente aquilo que faço. Gosto sempre de desassociar aquilo que faço do fator sorte, isto é, gosto de explicar que se o que eu faço, e aquilo que ganho, dependesse da sorte eu não seria capaz de o fazer. Depois acho importante fazer uma aproximação à Bolsa de Ações, ou seja, tentar explicar que aquilo que faço é muito semelhante com aquilo que se passa na Bolsa: passa muito por analisar as cotações de cada equipa durante um jogo de futebol e tentar comprar a um bom preço para vender ainda melhor em pouco tempo. Gosto de finalizar dizendo que não preciso de adivinhar que equipa vai ganhar para fazer dinheiro num jogo de futebol.
Ainda há um estigma social sobre o pessoal que vive de apostar?
Sim e não. Vejo muitas pessoas a olhar para o que faço com admiração e com vontade de perceber o conceito. Mas ainda encontro pessoas que me dizem: “Qualquer dia a tua sorte acaba… e depois perdes tudo!”. Aliás, continuo a receber chamadas todos os meses do meu senhorio a perguntar: “Então Rui, como estão a correr as apostas este mês?”. Diria que ainda há alguma descrença por parte das pessoas, que consideram que não é possível viver das apostas.
Se não fosses trader, farias o quê profissionalmente?
Provavelmente se não fosse trader estaria a trabalhar numa empresa de consultoria ou de auditoria, como praticamente todos os meus amigos de curso.
O que te levou a criar o projeto Back ou Lay?
Quando comecei a fazer Trading com algum sucesso, abri um tópico no fórum da Academia das Apostas onde partilhava aquilo que fazia e os meus ganhos e perdas diários. Esse diário, penso que seja ainda hoje o mais lido de todos os diários da Academia. Quando decidi terminar essa partilha recebi inúmeros pedidos para que abrisse um projeto em nome pessoal e para que continuasse a mostrar aquilo que fazia em formato de vídeo. Isto coincidiu com a altura em que o André Reis estava a criar um blog com o nome Back ou Lay, e acabei por me juntar a ele.
Quanto tempo perdes a fazer cada vídeo?
Cada vídeo passa por 5 etapas até estar concluído: 1 – Gravação; 2 – Seleção de Partes; 3 – Edição de Imagem; 4 – Edição de Som (Fazer os comentários); 5 – Últimos detalhes e Upload. Diria que da primeira etapa até à última vão umas 6 a 7 horas. Tenho centenas de horas de vídeos que não dão em nada, porque gosto sempre de ter conteúdos novos no site e vídeos que demonstrem sempre coisas diferentes.
Sentes que os teus vídeos ajudam as pessoas que estão a começar?
Sem dúvida que sim, pelas mensagens que vou recebendo, pelo feedback que as pessoas me dão, e pela evolução que noto em muitos utilizadores não tenho dúvida que os vídeos são uma grande ajuda. Quando comecei não havia este tipo de partilha, todas as minhas técnicas, toda a minha pesquisa e tudo o que aprendi está demonstrado em vídeos de 20 a 30 minutos.
Que conselhos dás a quem está a começar?
Muita dedicação, muito trabalho, muita consciência e muita disciplina. Isto pode parecer fácil, mas certamente que não é.
Tens amigos traders? Vocês trocam ideias entre vocês?
Tenho alguns. Esta profissão tem um aspeto negativo, que é o facto de ser bastante solitária, todos nós trabalhamos de forma individual em casa ou no escritório atrás de um computador. Para colmatar esta lacuna, sempre que trabalhamos estamos no Team Speak do Back ou Lay, desta forma podemos trocar ideias, discutir opiniões sobre os jogos e até criar algumas amizades.
Vais fazer isto para sempre?
Não te sei dizer se o farei para sempre, mas certamente que atualmente não há nada que me daria mais satisfação do que fazer o que faço. E sem dúvida que vou continuar a fazer trading durante os próximos anos, continuo em constante aprendizagem e todos os dias tenho vontade de ir para o computador olhar para os mercados.
Recebes muitos pedidos de pessoas para que os ajudes a tornarem-se traders?
Muitos, demasiados até. Aqui tenho que ser sincero e dizer que muitas pessoas não gostam de aprender, não gostam de pesquisar e não gostam de lutar pelas coisas. Querem fórmulas milagrosas e estratégias de aplicação fácil. Eu tenho o maior prazer em ajudar pessoas que eu vejo que estão empenhadas em conseguir ter sucesso e que apenas precisam de um empurrão, agora, não me peçam para trabalhar com o vosso dinheiro ou para vos dizer para apostarem no Benfica.
Como ocupas o teu tempo, quando não estás a trabalhar?
Tento passar o máximo de tempo com a minha namorada, embora nem sempre seja fácil porque os nossos horários acabam por ser totalmente opostos. De resto, gosto muito de ir comer fora, gosto de estar com os meus amigos, gosto de viajar e gosto de fazer uns jogos de FIFA (risos).
Quantos jogos trabalhas por semana?
Atualmente só faço jogos de grandes ligas, seja a liga espanhola, italiana, alemã, inglesa ou portuguesa. Diria que faço entre 20 e 25 jogos por semana, mas com tendência para diminuir.
Como é um dia típico teu?
Acordo relativamente cedo e deito-me relativamente cedo. A primeira coisa que faço é ver o mail e mensagens que estejam relacionadas com a página, tento dar sempre respostas rápidas a toda a gente. Sou mais produtivo de manhã, se tiver coisas para despachar, sejam vídeo-aulas, sejam artigos para o site, gosto de fazer antes do almoço. Não gosto de almoçar sozinho, normalmente vou almoçar com a minha namorada ou com algum amigo. Durante a tarde, e como trabalho em casa, algumas das tarefas domésticas ficam à minha responsabilidade. De resto é o normal, ir beber café com uns amigos, ver televisão, jogar PS. A partir das 17h ou 18h começam a aparecer uns jogos e é altura de trabalhar. Ao fim de semana é completamente diferente, uma vez que há jogos desde as 11h da manhã até às 23h da noite.
Consegues conciliar facilmente a tua vida pessoal com o trading?
Acabo por ter muito tempo livre. Mas os horários são completamente inversos em relação ao resto das pessoas, trabalho maioritariamente depois das 19h e ao fim de semana, o que acaba por ser difícil para conciliar com o horário de trabalho normal.
Quanto te perguntam quanto ganhas, o que costumas responder?
Não tenho qualquer problema em dizer, se bem que são valores que variam bastante. Mas qualquer pessoa que queira saber quanto ganho basta seguir a página de Facebook do Back ou Lay e rapidamente percebe.
Há quem pense que é fácil viver das apostas. Concordas com essa ideia?
Não concordo de todo. Como se costuma dizer, o difícil não é chegar ao topo, é mantermo-nos no topo. Conheço muita gente que ganha dinheiro com apostas, mas nem todos conseguem a consistência necessária para poderem afirmar que vivem das apostas.
És de que clube? E apostas nos jogos do teu clube de coração?
Sporting! Não faço jogos do meu clube. Por um lado porque não gosto e por outro porque normalmente vou ao estádio ver os jogos… Mas aquele golo do Tanaka de livre aos 90 minutos ter-me-ia dado um bom lucro!