A pouca higiene das casas de banho, assistentes de bordo que não usam cinto, como integrar o mile-high-club (o grupo de pessoas que já tiveram relações sexuais a bordo de um avião), o café com bactérias, os benefícios de ser um passageiro atraente – uma assistente de bordo conta os segredos da vida nos aviões.
Há algo de fascinante e intrigante no que diz respeito às tripulações aéreas. Talvez seja o uniforme, o estilo de vida que os obriga a viajar sempre ou os códigos e sinais secretos que usam para comunicarem uns com os outros. Mas comissários e assistentes de bordo afirmam que o trabalho não é assim tão glamoroso como parece.
Uma assistente de bordo – que preferiu permanecer no anonimato – deu uma entrevista à revista Vice, onde contou alguns dos segredos sobre o que realmente se passa nos aviões e que a maioria das pessoas desconhece. Essa assistente de bordo, chamada Betty durante a entrevista, explicou que a vida de um comissário de bordo moderno está longe do brilho e glamour da idade de ouro das companhias aéreas – embora ainda contenha um pouco de «sexo, drogas e bebidas alcoólicas» -, e deu um testemunho sincero e real sobre alguns factos intrigantes dos bastidores do mundo dos aviões.
São raras as pessoas que obedecem à ordem de desligar os telemóveis antes da descolagem: «Ninguém desliga os seus telefones», disse Betty à revista Vice. «Eu própria não o faço. Todas essas instruções são apenas preventivas. De igual forma, os passageiros não têm permissão para se levantarem enquanto o avião está a dirigir-se para a pista de descolagem. Mas vamos a 5 km/h, o que poderia realmente acontecer?».
Betty explicou que nada poderia acontecer de mal em qualquer dos casos e acrescenta: «Acho que deve ter sucedido alguma coisa para se ter criado essa regra. Durante o treino, dão-nos como justificação que alguém se deve ter magoado. Mas, por exemplo, nem sempre uso o meu cinto de segurança. Na verdade, houve uma vez em que não o usei durante a aterragem e, quando o avião pousou na pista, foi complicado, e acabei por ser projetada para a frente e bati com a cabeça. Aí senti-me um bocado estúpida, porque sabia que o deveria ter usado. Aliás, é obrigatório. Mas em relação ao telemóvel, mantenho-o ligado. Ninguém se importa e ninguém vai verificar».
Segundo Betty, os passageiros que desejam ter um divertimento extra a bordo e sonham em juntar-se ao «mile-high-club» (expressão para o grupo de pessoas que tiveram relações sexuais a bordo de um avião) devem fazê-lo durante o serviço de refeições e bebidas, pelo menos em aviões pequenos.
«Espere pelo serviço, quando a tripulação de bordo está no corredor do avião. Todos estão ocupados nessa altura. Quando me encontro a entregar a comida e a oferecer bebidas, não estou preocupada com o que está a acontecer atrás de mim. Até poderiam estar 10 pessoas na casa de banho que eu não me iria aperceber».
No entanto, talvez não se passasse a mesma coisa num avião jumbo, onde a tripulação verifica o que se vai passando nas casas de banho. Nos voos mais curtos, as assistentes não estão a observá-lo como possivelmente pensa. “Estamos a trabalhar ou então nos telemóveis, ou à conversa uns com os outros. Aliás, nem queremos estar perto da casa de banho e evitá-lo-emos a todo o custo. Mas aviso todos os passageiros que é um lugar desagradável e imundo», afirma Betty.
No que toca às casas de banho, a assistente de bordo diz que já não se impressiona com a forma como os passageiros a utilizam: «É de loucos como as pessoas usam as casas de banho dos aviões. A sério, são os lugares mais nojentos do planeta. Não consigo perceber se as pessoas são assim no seu dia-a-dia, mas a verdade é que quando entram num avião parecem não ter modos».
Para Betty, o café é algo igualmente repugnante: «Não bebam o café dos aviões». «É feito com a mesma água potável que atravessa o sistema da casa de banho. Recentemente tivemos um teste para a bactéria E. coli na nossa água e deu positivo. Depois, teve de vir a manutenção, que carregou nuns botões e acabou por remediar a situação. Evite qualquer tipo de água quente, chá ou café».
Se um passageiro traz os seus nervos ao de cima, Betty diz ter alguns métodos para lidar com eles. «Normalmente, gasto a maioria do meu tempo a ignorá-los», contou à revista Vice. «Tento afirmar-me o máximo possível e fazê-los perceber que quem manda ali sou eu. Por isso, não lhes dou o sumo de laranja com gelo como desejam, ou então dou-lhes com gelo se tinham pedido sem».
Para matar o tempo durante um voo de longa duração, Betty costuma jogar ao «quem salvaria primeiro». O jogo mental consiste em, no caso de emergência, decidir quem salvaria primeiro. «Obviamente que em primeiro lugar estariam as crianças, mas depois gosto de escolher os mais simpáticos primeiro e deixar os mais irritantes para o fim», disse.
«Gasta-se muito tempo a sonhar acordado e a olhar para os passageiros. Por vezes, colocamo-los em situações connosco que saberíamos que nunca se passariam na realidade», confessou. «Se achar um passageiro atraente, vou oferecer-lhes bebidas gratuitas e tentar seduzi-lo. Temos quatro ou cinco horas em que não se passa nada e, possivelmente, nunca mais vamos voltar a ver aquelas pessoas. A menos que nos encontrem na Internet, como já aconteceu».