As maiores enchentes que apanho no metro não são em hora de ponta, nem nos dias em que há greves parciais, fazendo com que toda a gente vá ao mesmo tempo para o trabalho. As maiores enchentes são quando há jogos importantes no estádio que fica perto da minha casa. Nem sardinhas enlatadas vão tão apertadas no metro como eu e os restantes, nesses dias de jogo grande.
Ao caminhar em direcção do meu sofá e televisão, passam por mim, em sentido contrário, dezenas de adeptos vestidos a rigor, e em passo acelerado, para ainda terem tempo de comer uma bifana antes do apito inicial. Vejo grupos de amigos, casais e solitários e, ao olhar para estes últimos, penso como o ser humano é complexo: um tipo, se for jantar fora sozinho, ao cinema sozinho ou à praia sozinho, é porque é estranho, sem amigos, um anti-social, certamente. Mas se este mesmo tipo for ao estádio sozinho, isso é claramente sinal de amor ao clube, uma coisa boa, portanto.
Não sou presença frequente nas bancadas e também não acho que é mais adepto aquele que vai ao estádio, do que aquele que vê o jogo pela televisão. Até porque, para mim, o melhor estádio do mundo é o meu sofá. Não levo com o fumo na cara do tipo que está ao meu lado a fumar, no intervalo não há filas para a casa-de-banho, nem para ir ao bar, e não ouço comentários ridículos de pessoal que percebe muito pouco de bola. O único problema é que o meu vizinho vê sempre primeiro os golos na televisão dele, do que eu na minha. E o sacana faz sempre tanto barulho a gritar, que já sei que algo de bom vai acontecer na minha televisão nos segundos a seguir…